Governo Silval Barbosa paga R$ 34 milhões a OSSs conduzidas por gang do deputado federal Pedro Henry e aplica calote de R$ 46 milhões em prefeituras
No interior de MT...
Prefeitos imploram, de pires na mão, repasse da verba devida à saúde enquanto Estado abre os cofres às OSSs
O Governo do Estado deixou de pagar R$46 milhões aos municípios
mato-grossenses, valor referente aos repasses para o setor da saúde em
2012, mas em compensação somente nos primeiros dois meses e meio de 2013
já repassou R$34,5 milhões às oito Organizações Sociais de Saúde
contratadas para gerir hospitais públicos, as combatidas OSSs
implantadas pelo ex-secretário de Estado de Saúde, o deputado federal
Pedro Henry (PP).
Das oito OSSs que faturaram este ano enquanto o governador Silval
Barbosa anuncia o pagamento de apenas 50% da dívida restante de 2012 com
as prefeituras, a que mais recebeu repasses foi o Instituto
Pernambucano de Assistência à Saúde (Ipas). Foram R$10.687.899,72 para a
OSSs que administra o Hospital Metropolitano de Várzea Grande, o
Hospital Municipal de Alta Floresta e o Hospital Regional de Colíder.
A Fundação de Saúde de Sinop, cidade de origem do atual secretário de
Saúde do Estado, Mauri de Lima, também foi contemplada com
R$3.050.923,78. Ele deixou a Secretaria de Saúde de Sinop para assumir a
SES. A Associação Congregação de Santa Catarina, que administra o
Hospital Regional e o Hospital São Luiz, ambos de Cáceres, além da
Sociedade Lacerdense de Beneficência, de Pontes e Lacerda, também
receberam repasses em 2013 no valor de R$10.185.194,41, coincidentemente
municípios que compõem o reduto eleitoral de Pedro Henry.
O Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), gestor
do Hospital Regional de Sorriso, recebeu repasses que somam
R$5.683.746,65 nos primeiros dois meses e 20 dias de 2013. E a Sociedade
Beneficente São Camilo, responsável pela gestão do Hospital Regional de
Rondonópolis, Hospital Coração de Jesus de Campo Verde e Hospital
Municipal de Nova Mutum, foi contemplada este ano pela SES com
R$4.914.137,18.
A entrega de hospitais públicos às OSSs foi uma imposição do
ex-secretário de Estado de Saúde, Pedro Henry. Ele considerou esta a
melhor saída para os problemas de gestão dos hospitais, atestando a
falta de competência do Estado, o que foi considerado uma afronta aos
princípios do Sistema Único de Saúde por parte de servidores do SUS e da
sociedade organizada. Apesar de não estar mais à frente da pasta, Pedro
Henry ainda exerceria grande influência na SES.
Enquanto isso, a gritaria é geral por parte dos prefeitos que estão sem
receber os repasses da saúde desde meados de 2012. Na semana passada,
os prefeitos que presidem consórcios de saúde de todo o Estado se
reuniram com o secretário de Estado de Saúde, Mauri Rodrigues Lima, na
Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), em Cuiabá. Saíram da
reunião decepcionados e desanimados.
O presidente do Consórcio da Região Norte, prefeito de Nova Santa
Helena, Dorival Lorca, chamou a atenção para a crise por que passam os
municípios na área de saúde, ao deixar a reunião. Segundo ele, a
população carente é a mais prejudicada. O município está enviando
pacientes para fazer exames em Cuiabá, pois o hospital conta com poucos
procedimentos. Os valores atrasados de 2012 a serem repassados ao
consórcio já somam R$345 mil.
“Estamos sangrando”, diz prefeito
Hermes Bergamim, prefeito de Juína (725 km de Cuiabá) e presidente do
Consórcio Vale do Juruena, está muito pessimista com os destinos da
saúde para os municípios do norte e noroeste do estado. “Nossa saúde, de
0 a 10, tem nota 3. Estamos sangrando!”, desabafa Hermes, que pede
apenas o repasse de R$500 mil devidos à saúde de Juína, um valor que
chega a ser insignificante diante dos R$31,7 milhões repassados somente
este ano às OSSs contratadas pelo Estado.
Ele relata que só estão conseguindo fazer “o básico” e que estão
administrando por mandados judiciais. Conta, ainda, que a região é
esquecida pelo Estado em todas as áreas, não só na saúde: “Não temos
estradas, não temos moradia, não temos saúde, não temos hospital
regional, não temos nada!”.
O prefeito fica um pouco menos pessimista quando sente a força da união
dos consórcios, pois acredita que haverá uma solução. Ele relata que os
municípios estão “na seca e o Estado precisa pagar o que foi
sacramentado” e cobra, também, uma reavaliação entre o convênio
Estado-Consórcios e Estado-OSSs pela disparidade de recursos passados
pelo Estado pelos serviços prestados. “Essa revisão é necessária porque
as OSSs recebem 10 vezes mais pelo mesmo número de cirurgias realizadas
pelos consórcios. Isso é um absurdo!”.
Bergamim pede uma solução rápida para o impasse, caso contrário o
prefeito adianta que os municípios que compõem o Consórcio Vale do
Juruena irão investir em frota de ambulâncias e mandar todos os
pacientes para Cuiabá.
Silval: “Devo, não nego, pago quando puder
Depois da reunião fracassada com o secretário de Estado de Saúde, Mauri
Rodrigues Lima, os presidentes de consórcios de saúde se reuniram com o
governador Silval Barbosa (PMDB), que reconheceu o calote e propôs o
parcelamento da dívida.
Em dia nos repasses às OSSs – cuja eficiência e eficácia vêm sendo
muito questionadas e apesar disso recebem muito mais do que os demais
hospitais –, Silval Barbosa anunciou que vai pagar apenas 50% dos da
dívida com os municípios referente a 2012. A outra metade deve ser paga
ainda em 2013, de acordo com critérios que serão avaliados pelo Governo
do Estado.
A negociação ainda estabelece que os valores referentes aos meses de
janeiro e fevereiro de 2013 serão repassados de acordo com a Lei
9.870/2012, que dispõe sobre o percentual de repasse de recursos
destinados ao desenvolvimento das ações de saúde.
Os prefeitos foram unânimes em afirmar que o atraso no repasse está
comprometendo o atendimento à população, pois muitos profissionais
deixam de prestar serviços devido ao pagamento atrasado.
Texto: Sandra Carvalho e Rita Aníbal - Circuito MT
Foto: Pedro Alves
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