A juíza da 14ª Vara Cível de Cuiabá, Ana Paula Cartola Miranda, negou pedido do secretário chefe da Casa Civil de Mato Grosso, Pedro Nadaf, para conceder tutela antecipada em ação de indenização por dano moral que lhe permitiria fazer uma retratação na revista IstoÉ por conta da publicação de uma reportagem que revelou indícios de sua participação em um esquema milionário de corrupção quando era presidente da FECOMÉRCIO em Mato Grosso e já ocupava cargo de secretário no governo Silval Barbosa. No dia 9 de julho, a revista IstoÉ, de responsabilidade do Grupo de Comunicação Três S/A, publicou uma página com a denúncia. Ao rejeitar o pedido de retratação exigido por Pedro Nadaf, a magistrada citou que não há comprovação de que houve má-fé na reportagem. LEIA A MATÉRIA:
PF investiga superfaturamento em compra de fazenda pelo Sesc
Investigação aponta que valor pago foi de R$ 20 milhões, enquanto o valor de mercado era de R$ 2 milhões
Pedro Nadaf era o presidente da Fecomércio em MT e assinou a negociação
A Polícia Federal encontrou indícios de que o Sistema S teria sido usado para abastecer o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro investigado pela Operação Ararath em Mato Grosso. Em 2011, o Sesc Nacional comprou do empresário Rodolfo Aurélio Campos uma fazenda de cinco mil hectares, na região de Barra do Ribeiro Triste. Pagou pelo imóvel R$ 20 milhões, pelo menos dez vezes mais que o valor de mercado. Avaliação feita pela Edificar Empreendimentos Imobiliários, importante corretora local, aponta que a propriedade valeria hoje R$ 2,5 milhões. Há três anos, não custaria mais que R$ 2 milhões.
A compra suspeita foi autorizada pelo então presidente do Sesc Nacional, Antônio José Domingues de Oliveira Santos. Mas quem assinou o contrato, como representante da entidade, foi o presidente da Fecomércio-MT, Pedro Jamil Nadaf, que ocupava simultaneamente a Secretaria de Indústria e Comércio do governo Silval Barbosa (PMDB). Atualmente, ele é secretário da Casa Civil. Tanto Nadaf como Silval e Rodolfo Campos são investigados na Operação Ararath.
Ouvido por ISTOÉ, Oliveira Santos disse que a compra observou as regras do Sesc e que duas avaliações corroboraram o valor desembolsado. Uma de R$ 31,8 milhões e outra de R$ 28,4 milhões. “Essa propriedade valia o dobro. Nós conseguimos uma ótima negociação”, diz ele. Além de aprovado pelo Conselho de Administração, o negócio passou pelo Conselho Fiscal, presidido por Carlos Gabas, secretário-executivo do Ministério da Previdência. Ele também defendeu a compra, ao menos do ponto de vista dos princípios da instituição e de regras contábeis. “Não nos cabe avaliar oportunidade, conveniência e valores. Isso é com o conselho de administração”, afirma.
Fruto da contribuição dos trabalhadores do comércio, os recursos do Sesc devem ser aplicados em atividades de qualificação profissional, lazer e bem-estar. A fazenda é hoje usada como refúgio ecológico. “Fizemos uma reunião lá. Tem uma colônia de férias. Parece um projeto adequado às normas de lazer aos comerciários e preservação do meio ambiente”, diz Gabas. Nadaf não retornou os contatos da reportagem, mas Oliveira Santos fez questão de defendê-lo. “Ele só assinou. Não tem nada a ver com isso.”
Depois de 34 anos à frente do Sesc e do Senac, Oliveira Santos foi afastado na terça-feira 1o por determinação do STJ. O motivo foi uma condenação do TCU relativa a prestações de contas de 2001.
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